Os fetos só têm capacidade de sentir dor nos últimos meses da gravidez - indica um novo estudo que poderá reacender o debate entre defensores e detractores do aborto nos Estados Unidos.
O trabalho, hoje publicado na revista da Associação Médica Americana, afirma que a prescrição de analgésicos durante um aborto ou no quinto ou sexto meses da gravidez não serve para nada e pode pôr em perigo a saúde da mulher.
Depois de analisarem centenas estudos de relatórios médicos, investigadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) chegaram à conclusão de que os fetos são incapazes de sentir dor até ao sétimo mês da gravidez (28 semanas).
As estruturas cerebrais envolvidas na sensação da dor começam a formar-se muito antes, mas só funcionam nas últimas etapas da gravidez, afirmou o principal autor do estudo, o anestesista obstetra da UCSF Mark Rosen.Já antes da publicação deste trabalho, muitos opositores do aborto criticaram-no por alegada parcialidade.
“Literalmente, meteram as mãos num ninho de vespas”, afirmou Kanwaljeet Anand, um investigador da dor fetal na Universidade de Arkansas para as Ciências Médicas segundo o qual o feto já sente dor com 20 semanas. “Isto não é a última palavra”, acrescentou.
Para Nancy Chescheir, chefe do departamento de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Vanderbilt e directora da Sociedade de Medicina Materno-Fetal, o estudo “ajudará a desenvolver algum consenso” sobre quando o feto sente dor. “Até agora não há nenhum”, afirmou.
Depois da legalização do aborto nos Estados Unidos, em 1973, um dos argumentos usados pelos seus detractores era que as mulheres que decidiam interromper a gravidez deviam ter em conta a dor que provocariam ao feto.
Nesse sentido, têm vindo a exigir leis sobre a dor fetal durante a gravidez como forma de controlar o aborto no país.
A medida afectaria cerca de 18.000 abortos que se realizam anualmente nos Estados Unidos no quinto mês da gravidez ou depois.
Lusa