Prometeu e cumpriu, escrevendo a História De Uma Gaivota E Do Gato Que A Ensinou A Voar. Este livro foi escrito na fase de militância de Luís Sepúlveda, na Greenpeace. Ao mesmo tempo que se desenrola a história, este livro chama a atenção da poluição irresponsável dos oceanos, por parte das companhias de navegação e das companhias petrolíferas e da luta da Greenpeace, contra estas actuações impunes: “…Grandes barcos petroleiros aproveitavam os dias de neblina costeira para se afastar pelo mar dentro para lavar os tanques. Atiravam ao mar milhares de litros de uma substância espessa e pestilenta que era arrastada pelas ondas. Mas vira também que às vezes umas pequenas embarcações se aproximavam dos petroleiros e os impediam de esvaziar os tanques. Infelizmente aquelas embarcações decoradas com as cores do arco-íris nem sempre chegavam a tempo de impedir o envenenamento dos mares”.
Através da voz do gato Barlavento, chama também a atenção para a poluição no Mar do Norte: “Acontecem no mar coisas terríveis. Às vezes pergunto a mim mesmo se alguns humanos enlouqueceram, ao tentarem fazer do oceano uma enorme lixeira. Acabo de dragar a foz do Elba e nem podem imaginar a quantidade de imundice que as marés arrastam. Tirámos barris de insecticida, pneus e toneladas das malditas garrafas de plástico que os humanos deixam nas praias”.
Luís Sepúlveda é também muito crítico com as humilhações, que os humanos infligem aos outros animais:” os golfinhos… condenados a fazer de palhaços em espectáculos aquáticos… os leões, os grandes felinos obrigados a viver entre grades à espera de que um cretino lhes meta a cabeça entre as mandíbulas; ou os papagaios, encerrados em gaiolas a repetirem parvoíces”.
A fábula História De Uma Gaivota E Do Gato Que A Ensinou A Voar, conta as aventuras de um gato “grande, preto e gordo”, chamado Zorbas e de uma gaivota que ele vai ensinar a voar. Kengah, uma bonita “gaivota de penas de cor de prata”, é surpreendida por uma maré negra no mar do Norte, depois de ter mergulhado atrás de um cardume de arenques. Depois de se debater longas horas, à superfície tentando limpar a viscosidade agarrada às penas, verificou que ainda podia estender as asas, encetando, no limite das suas forças, o voo até ao Porto de Hamburgo. Entretanto, Zorbas estava a apanhar sol na sua varanda, quando lhe cai de repente á sua frente a gaivota moribunda.
Antes de morrer a gaivota põe um ovo, e pede que Zorbas lhe faça três promessas: ”promete-me que não comes o ovo, promete-me que cuidas dele até que nasça a gaivotinha e promete-me que a ensinas a voar”. Perante o estado terminal da gaivota, Zorbas promete cumprir os últimos desejos da gaivota, sem se aperceber do grau de responsabilidade, que chamou a si. A seguir a gaivota morre.
Assim começa a aventura do gato “grande, preto e gordo”, que sendo fiel á sua palavra vai fazer todos os esforços para cumprir a sua promessa, procurando para isso, os seus amigos, Collonelo, Secretário, Sabetudo e Barlavento, pois “Os problemas de um gato do porto são problemas de todos os gatos do porto”. Depois de contar toda a história a Sabetudo, foram enterrar a gaivota morta.
Entretanto Zorbas, é incumbido de chocar o ovo, depois de Sabetudo, ter visto na enciclopédia, que era assim que se fazia. Quando nasce a pequena gaivota Ditosa, foi este o nome que lhe deram, Zorbas é tratado de mamã.
Os cinco amigos cuidam em conjunto da pequena Ditosa, e com a boa vontade de todos e das enciclopédias do Sabetudo, começam a preparar-se para a ensinar a voar. Ditosa, que se integra tão bem, na convivência com os gatos, pensando que também é um gato, começa a frustrar o esforço dos gatos.
Zorbas tem uma conversa séria com a gaivota Ditosa, explicando-lhe que ela tem de voar, pois é isso o que as gaivotas fazem.
Mas os cinco amigos, mesmo com as enciclopédias do Sabetudo, não conseguem fazer a Ditosa voar, todas as tentativas fracassam. Em desespero de causa, os gatos fazem uma assembleia, para Zorbas quebrar o tabu dos gatos: “Miar a língua dos humanos”.
É assim que os gatos escolhem um humano, para quebrar o tabu, recaindo a escolha, num poeta, porque, diz Zorbas “Talvez não saiba voar com as asas de pássaro, mas ao ouvi-lo sempre pensei que voa com as palavras”.
Assim, numa noite chuvosa, o poeta ajudou a Ditosa a voar, seguindo o seu destino, deixando Zorbas com lágrimas a embaciarem os olhos amarelos, mas ao mesmo tempo, compreendendo que a sua amiga, tinha necessidade de seguir a sua própria natureza.
Uma fábula em que a lealdade, a amizade e a honra estão em grande conta, mas também, o respeito pela natureza e o respeito pela diversidade. Um livro para todas as idades tendo interpretações diferentes, conforme o conhecimento da obra do autor e da idade.